Alberto Afonso Landa Camargo
Envelhecemos...
Ainda te vejo a guria que conheci...
Olho-te inteira... olho-me refletido
E não há rugas... há os meninos
Que o tempo não envelheceu...
Sou um instante perdido qualquer,
Tu és a eternidade do tempo...
Poemas de amor, de saudade, dores, alegrias... vidas que se cruzam ou se afastam... mãos que se entrelaçam, mãos que acenam... partida... adeus... reencontro...
Alberto Afonso Landa Camargo
Envelhecemos...
Ainda te vejo a guria que conheci...
Olho-te inteira... olho-me refletido
E não há rugas... há os meninos
Que o tempo não envelheceu...
Sou um instante perdido qualquer,
Tu és a eternidade do tempo...
Alberto Afonso Landa Camargo
Que fim levou a minha rua de terra?
Onde anda a chuva que descia por ela
E que é feito das crianças
Que brincavam na correnteza?
E os palitos que desciam por ela
Chegaram ao fim da corrida?
O progresso escondeu a terra
Que desapareceu sob as pedras...
E as crianças levadas
Pela correnteza do tempo
Perdidas nas ruas da saudade
Não existem mais...
Alberto Afonso Landa Camargo
Longe...
as tintas da Bastilha,
Rubras
tintas – encarnadas –
Déspotas
lanças brandidas
E
espadas ensanguentadas...
Grades
cerradas desnudam
Das
promessas descumpridas...
Pontes
caem sobre o fosso,
Despoja-se
quem cuidava
Dos
muros enfraquecidos...
Hordas
derrubam umbrais,
Maceram
armas rendidas,
Cabeças
rolam... traídas...
Dardos
clamam liberdade –
A
palavra falaciosa –
Traem-na
em próprio ímpar nome:
Fraternidade
e igualdade...
Franqueia-se
a insensatez –
Escárnio
à palavra dada...
Flui...
verte o sangue nas lanças
Nas
torrentes da inocência...
Fecham-se
os olhos – caolhos –
Desfaz-se
a honra – se havida –
Rubra,
advém da regência
Do
poder de ser só força...
Agora
termina o ciclo.
Não
há mais cabeças nas lanças.
Tempo
infame seca o sangue.
O
templo do bem emerge,
Chega
a luz que fecha fossos,
Ponte
aberta, sem divisas...
Impõe-se
o sol, que é razão,
E
temperam-se as virtudes.
Tirania
em reverência,
Verdades
não são mais fé,
Mas
graus do conhecimento...
Homem
ao centro – o saber...
Perde-se
a superstição.
Cai
num abismo sem volta
O
sobrenatural rumo
Das
coroas e brasões,
Para
agora bradar: Luz!
Luz!
Brilho de um novo mundo!
Na
estrada, há bússola nela,
Humanidade
em comando...
Sem
fossos a separar,
Sem
levadiças, correntes
Que
prendiam a ciência
No
escuro das religiões...
Não!
Não mais o fim dos tempos!
Início
deles – saber!
Sem
esclarecidos déspotas,
Agora
postos nos seus
Brigues
sujos... carcomidos...
Canta
a luz! Humanidade!
Alberto Afonso Landa Camargo
Chamas ardentes queimam o meu coração,
Invadem-me arrepios e choros de agonia,
Lágrimas rolam do meu rosto em emoção,
Pungentes sulcos de dor tiram-me a
alegria.
Sofro, enfim, torturas de uma
separação,
Acolhem-me gritos de uma volta tardia,
Chibatas fortes tiram-me uma exclamação
De dor e de culpa por minha rebeldia.
Assim, em minha própria cruz crucificado,
Com passos incertos por incertos
caminhos
Sigo com tua imagem de espinhos
bordada.
Para que tu voltes em vão tento gritar,
Olho para os meus passos tristes e
sozinhos
E desapareço para não mais voltar.
Ao mexer nalgumas folhas amareladas
que dormiam há muitos anos nas
gavetas do tempo, encontrei este soneto
que escrevi no longínquo ano de 1966.
Depois de uma separação ocorrida
há 55 anos, na minha adolescência...
Hoje, só lembranças...