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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

LIRA DO ENTARDECER

 


Alberto Afonso Landa Camargo

 

Que fim levou a minha rua de terra?

Onde anda a chuva que descia por ela

E que é feito das crianças

Que brincavam na correnteza?

E os palitos que desciam por ela

Chegaram ao fim da corrida?

O progresso escondeu a terra

Que desapareceu sob as pedras...

E as crianças levadas

Pela correnteza do tempo

Perdidas nas ruas da saudade

Não existem mais...

domingo, 15 de agosto de 2021

LUZ! SABER! HUMANIDADE!

 


 Alberto Afonso Landa Camargo

 

Longe... as tintas da Bastilha,

Rubras tintas – encarnadas –

Déspotas lanças brandidas

E espadas ensanguentadas...

Grades cerradas desnudam

Das promessas descumpridas...

 

Pontes caem sobre o fosso,

Despoja-se quem cuidava

Dos muros enfraquecidos...

Hordas derrubam umbrais,

Maceram armas rendidas,

Cabeças rolam... traídas...

 

Dardos clamam liberdade –

A palavra falaciosa –

Traem-na em próprio ímpar nome:

Fraternidade e igualdade...

Franqueia-se a insensatez –

Escárnio à palavra dada...

 

Flui... verte o sangue nas lanças

Nas torrentes da inocência...

Fecham-se os olhos – caolhos –

Desfaz-se a honra – se havida –

Rubra, advém da regência

Do poder de ser só força...

 

Agora termina o ciclo.

Não há mais cabeças nas lanças.

Tempo infame seca o sangue.

O templo do bem emerge,

Chega a luz que fecha fossos,

Ponte aberta, sem divisas...

 

Impõe-se o sol, que é razão,

E temperam-se as virtudes.

Tirania em reverência,

Verdades não são mais fé,

Mas graus do conhecimento...

Homem ao centro – o saber...

 

Perde-se a superstição.

Cai num abismo sem volta

O sobrenatural rumo

Das coroas e brasões,

Para agora bradar: Luz!

Luz! Brilho de um novo mundo!

 

Na estrada, há bússola nela,

Humanidade em comando...

Sem fossos a separar,

Sem levadiças, correntes

Que prendiam a ciência

No escuro das religiões...

 

Não! Não mais o fim dos tempos!

Início deles – saber!

Sem esclarecidos déspotas,

Agora postos nos seus

Brigues sujos... carcomidos...

Canta a luz! Humanidade!

terça-feira, 13 de julho de 2021

INSENSATEZ


 

Alberto Afonso Landa Camargo


Chamas ardentes queimam o meu coração,

Invadem-me arrepios e choros de agonia,

Lágrimas rolam do meu rosto em emoção,

Pungentes sulcos de dor tiram-me a alegria.

 

Sofro, enfim, torturas de uma separação,

Acolhem-me gritos de uma volta tardia,

Chibatas fortes tiram-me uma exclamação

De dor e de culpa por minha rebeldia.

 

Assim, em minha própria cruz crucificado,

Com passos incertos por incertos caminhos

Sigo com tua imagem de espinhos bordada.

 

Para que tu voltes em vão tento gritar,

Olho para os meus passos tristes e sozinhos

E desapareço para não mais voltar.

 

Ao mexer nalgumas folhas amareladas

que dormiam há muitos anos nas

gavetas do tempo, encontrei este soneto

que escrevi no longínquo ano de 1966.

Depois de uma separação ocorrida

há 55 anos, na minha adolescência...

Hoje, só lembranças...